Memórias

Memórias

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Receio que se repita...


Há recordações da nossa meninice e juventude que nos amedrontam. Tanto pelo que tivemos e passámos como por algumas situações que estamos a começar a viver.
Quando era criança-criança na idade, porque nunca fui criança nem tive juventude-senti na carne a marginalização de pessoas adultas, jovens e crianças que pertenciam a extractos sociais diferentes ou organizavam as suas vidas, económica e social, de forma a não terem uma vida errante e de incertezas diárias.
Os primeiros trabalhos que tive-pastoreio de ovelhas, guardador de suínos, agricultura e mais tarde comércio-não me davam, pelos horários e tipo de serviços, as possibilidades de me poder vestir ou habitar em condições com alguma dignidade.
Sentia que as pessoas tinham a tendência de se afastar de mim. Não porque não tivesse higiene, mas porque os serviços que fazia não me permitiam andar com roupa limpa e a qualidade das mesmas deixarem muito a desejar.
Toda a criança arrasta, e por toda a sua vida, estas recordações de desprezo, marginalização e repudio. É como uma marca na carne.
Quando aos 14 anos passei a trabalhar na indústria, senti ser aceite como humano. Contudo, o facto de andar vestido com pouca qualidade, manteve-me a alguma distância dos jovens da minha idade.
Nos jovens de hoje, encontramos um desarranjo pessoal, até com pouca higiene nalguns casos. Sem trabalho para formarem futuro-vivem com auxílio dos familiares-e sem educação para poderem criar os descendentes que poderão vir a ter, estamos perante uma geração perdida em elevada percentagem.
Além da situação do país, temos esta geração, dos 15 a 30 anos, sem habilitações literárias ou profissionais, abandonados e entregues a um futuro de imprevistos.

É por tudo isto o meu receio; que os vindouros tenham uma elevada percentagem de marginalizados e aspirantes a algum tipo de escravatura. As bases estão criadas.


Sem comentários:

Enviar um comentário