Há recordações da nossa meninice e juventude que nos
amedrontam. Tanto pelo que tivemos e passámos como por algumas situações que
estamos a começar a viver.
Quando era criança-criança na idade, porque nunca fui
criança nem tive juventude-senti na carne a marginalização de pessoas adultas,
jovens e crianças que pertenciam a extractos sociais diferentes ou organizavam
as suas vidas, económica e social, de forma a não terem uma vida errante e de
incertezas diárias.
Os primeiros trabalhos que tive-pastoreio de ovelhas,
guardador de suínos, agricultura e mais tarde comércio-não me davam, pelos
horários e tipo de serviços, as possibilidades de me poder vestir ou habitar em
condições com alguma dignidade.
Sentia que as pessoas tinham a tendência de se afastar
de mim. Não porque não tivesse higiene, mas porque os serviços que fazia não me
permitiam andar com roupa limpa e a qualidade das mesmas deixarem muito a
desejar.
Toda a criança arrasta, e por toda a sua vida, estas
recordações de desprezo, marginalização e repudio. É como uma marca na carne.
Quando aos 14 anos passei a trabalhar na indústria,
senti ser aceite como humano. Contudo, o facto de andar vestido com pouca
qualidade, manteve-me a alguma distância dos jovens da minha idade.
Nos jovens de hoje, encontramos um desarranjo pessoal,
até com pouca higiene nalguns casos. Sem trabalho para formarem futuro-vivem
com auxílio dos familiares-e sem educação para poderem criar os descendentes
que poderão vir a ter, estamos perante uma geração perdida em elevada
percentagem.
Além da situação do país, temos esta geração, dos 15 a
30 anos, sem habilitações literárias ou profissionais, abandonados e entregues
a um futuro de imprevistos.
É por tudo isto o meu receio; que os vindouros tenham
uma elevada percentagem de marginalizados e aspirantes a algum tipo de
escravatura. As bases estão criadas.
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