O seu caminhar era pesado, próprio para a sua idade e seu peso corporal.
Andava, parava por instantes; respirava, como se tivesse necessidade de
absorver todo o ar que estava á sua volta e, continuava a caminhar até nova necessidade
de voltar a parar. Era assim que eu acompanhava minha avó paterna, senhora de
muita idade, e a quem eu queria com muito amor.
Quando tinha “férias” anuais, havia duas maneiras de as utilizar: ou ia
trabalhar para ganhar mais alguns escudos ou ia passar aqueles dias com minha
avó, que vivia só, e me agradecia a companhia como uma dádiva divina.
Eu sabia que era o neto preferido e aquele que sabia compreender as dores
que a vida lhe tinha dado. As dores do coração ou da alma, como diz o povo, não
têm cura e, ela era uma sofredora. Tinha vivido com esta minha avó, no período
mais marcante de uma criança, e terá sido este tempo, a marca que recebi para
na minha vida poder ver que o mundo não tinha só uma cor.
Analfabeta, mas inteligente e conhecedora da vida, deu-me conselhos de grande
valia e mostrou exemplos sábios que me desviaram de caminhos que eu poderia ter
trilhado.
Despertei aflito com o sonho que estava a ter… Na minha ida para Timor, em
serviço militar, pedi-lhe a ultima bênção (faleceu na minha ausência) e já
passaram muitos anos. Como é possível, em sonho, recordar com tanto pormenor
acontecimentos passados há tantos anos?
Não
sei se ainda restará alguma molécula do teu corpo, mas as recordações que me
deixastes e o bem que me fizestes não me deixarão esquecer-te.
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