Memórias

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terça-feira, 13 de outubro de 2015

PESADELO ou RECORDAÇÃO?

    O seu caminhar era pesado, próprio para a sua idade e seu peso corporal. Andava, parava por instantes; respirava, como se tivesse necessidade de absorver todo o ar que estava á sua volta e, continuava a caminhar até nova necessidade de voltar a parar. Era assim que eu acompanhava minha avó paterna, senhora de muita idade, e a quem eu queria com muito amor.
   Quando tinha “férias” anuais, havia duas maneiras de as utilizar: ou ia trabalhar para ganhar mais alguns escudos ou ia passar aqueles dias com minha avó, que vivia só, e me agradecia a companhia como uma dádiva divina.
    Eu sabia que era o neto preferido e aquele que sabia compreender as dores que a vida lhe tinha dado. As dores do coração ou da alma, como diz o povo, não têm cura e, ela era uma sofredora. Tinha vivido com esta minha avó, no período mais marcante de uma criança, e terá sido este tempo, a marca que recebi para na minha vida poder ver que o mundo não tinha só uma cor.
   Analfabeta, mas inteligente e conhecedora da vida, deu-me conselhos de grande valia e mostrou exemplos sábios que me desviaram de caminhos que eu poderia ter trilhado.

   Despertei aflito com o sonho que estava a ter… Na minha ida para Timor, em serviço militar, pedi-lhe a ultima bênção (faleceu na minha ausência) e já passaram muitos anos. Como é possível, em sonho, recordar com tanto pormenor acontecimentos passados há tantos anos?
   Não sei se ainda restará alguma molécula do teu corpo, mas as recordações que me deixastes e o bem que me fizestes não me deixarão esquecer-te. 


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