O Tóino: - uma criança no seu começo de
vida em trabalho remunerado (já tinha “treinado” em tarefas familiares).
Estamos na época da apanha da azeitona, anos de 1950, em que a faina era feita
com o varejar e ripar do fruto das oliveiras para grandes panos estendidos no
chão em redor das árvores.
Homens e mulheres ocupavam-se destes trabalhos, escolhendo-se os mais novos
para poderem subir ás árvores. Outros tarefeiros recolhiam os frutos caídos nos
panos para o local onde se fazia a sua limpeza, retirar folhas ou outros
detritos, preparando a sua ida para o lagar.
As
azeitonas caídas fora dos panos não ficavam no local. Eram recolhidas por
pessoas de mais idade e por crianças retiradas da escola. Passavam os dias
debruçadas nesta recolha que era feita para cestas feitas de vimes ou de canas
e despejadas periodicamente por outros trabalhadores. Claro que além de ter de
fazes a apanha na sua área, cada um tinha que ter conteúdo na cesta ou não
fosse haver cortes na “maquia” (seu vencimento ou complemento do mesmo, feito
com feijão, grão, azeite ou frutos secos).
Ao
conjunto destas pessoas era dado o nome de “ranchos”, conduzidos por um
capataz, homem responsável pelo desempenho de cada um e que tinha angariado
toda esta gente na sua aldeia e arredores, colocando-as ao serviço do
latifundiário, proprietário dos extensos olivais.
Não
fosse as agruras do tempo (frio, chuva e algumas trovoadas) e a alimentação que
nos era entregue (couves cozidas com algum feijão e raras batatas, mas
confecionados em panelões para matar a fome de 300/400 pessoas) a faina até era
tolerada pelos homens e mulheres mais novos. Aos de idade avançada e às
crianças, é que dava pena ver o sofrimento por que passavam.
Com
uma duração de 60 dias ou mais, havia os que tinham de abandonar o grupo por
falta de saúde, pela dureza do trabalho para as suas condições físicas ou pelas
gripes e pneumonias contraídas devido ao enxugar no corpo as roupas molhadas
constantemente. O seu “descanso” nocturno era feito em camas de palha,
estendida no chão de grandes pavilhões (um para os homens e outro para as
mulheres) e que em nada ajudava os mais debilitados.
O Tóino acompanhou os pais num destes “ranchos” sem poder ser cortado
na “maquia” (valor em dinheiro e em leguminosas). Estava acostumado a ter uma
má alimentação, mas um pouco melhor do que aquela, dada a sua confeção e
higiene; engripou-se mas teve os mimos possíveis e cuidados da mãe, chorava por
não poder continuar na escola, mas endureceu na sua vontade de que não era
aquela vida que iria levar no futuro. Teve que esperar alguns anos, mas
conseguiu parte dos seus objectivos, deixando de ser Tóino e utilizar o seu nome do
B.I.
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