Memórias

Memórias

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Bailes dos anos 50...

Diz o povo, que “recordar é viver” e eu acrescento que, quando as recordações são positivas, parece haver o “rejuvenescer” de um sentimento que junto a uma saudade doentia por vezes se torna dolorosa. Talvez por não se ter ficado saciado e o vazio que ficou nos dar esta sensação de dor.
Escrevo este sentimento, lembrando o que tive e o que passei até à minha maior idade (21 anos) pois o pouco de bom quando aparecia era vivido com alguma loucura.
 Não são muitas, mas as que houve, recordo-as como se as estivesse ou pudesse repetir.
Recordar os bailes dos anos 50, princípios de 60 do século 20 é como ficar extasiado. Era praticamente a minha única diversão. Tinha baixos custos, ricos em convívio e servia de fuga a situações que eu não devia assistir. Acrescentando o gosto que sempre tive em dançar (nunca passei de um dançarino medíocre) era com elevada agitação que vivia o aproximar dos fins-de-semana em que podia ir ao baile.
 Como não detinha a possibilidade de utilizar transportes públicos (os cinco “paus” eram para pagar a entrada e pouco mais), percorria distâncias de quilómetros para me divertir em tão bom e saudável passatempo. Era novo e o cansaço não aparecia. A alimentação era esquecida e a “gordura corporal” não me incomodava; só tinha de evitar que os ossos não me furassem a pele. Eram condições que abonavam para a minha ligeireza no dançar e para a rapidez das deslocações, que comparadas com as de alguns amigos me davam certas vantagens. Ser pobre não tem tudo de mau!
 Para falar destes bailes, não posso deixar de acrescentar, que na maior parte das vezes eram feitos em povoações pequenas, simples e humildes nas gentes que as formavam, de poder económico quase inexistente, mas onde a pureza, seriedade, sentido de ajuda e a educação estavam acima de tudo.
 A falta destes bens na sociedade de hoje, comparado com a pureza do viver daqueles tempos, mais aumenta a minha tristeza nas recordações daquela época.
 Com os bailes aqui descritos, junto os namoricos que se arranjavam pela oportunidade de diálogo que havia entre os pares na dança. Muitos acabavam em casamento, no qual eu incluo o meu e sem necessidade de pedir ou aceitar namoro.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Meus anos de "juventude".

É normal dar-se como período de juventude o espaço compreendido entre os 14 e os 20 anos. Digo normal porque é o tempo em que se deixa de ser criança para se começar a ter responsabilidades dos seus actos, verificar quais as suas possibilidades, a realidade em que vivemos…

Como nos animais irracionais, que começam a deixar os progenitores para seguirem sozinhos o seu destino, o ser humano tem neste período a sua formação e preparação para a vida futura.
Quando bem acompanhados e auxiliados pelos pais, podem adquirir as bases com a resistência necessária para o seu rumo na vida.
 Mesmo com todas estas possibilidades, nem todos os jovens seguem o caminho mais correcto, transportando-os para uma formação de falhas e inutilidades que marcam toda a sua existência.
Talvez porque não têm a força necessária, a ambição de serem os lutadores a que a vida nos obriga, por langor ou passividade própria.

Este período marcou em mim um tempo de vitórias e frustrações. Não tive oportunidades de estudar quando o vazio de tempo, após o trabalho na fábrica, não tinha preenchimento de qualquer utilidade, não podia acompanhar com todos os rapazes porque me apresentava como pobre envergonhado, não pertencia à classe de famílias que tinham organização de vida…
Quando isto acontece a quem deseja ser “normal” ainda que pobre, há uma vontade crescente de lutar contra todas as adversidades e, na primeira oportunidade inicia-se a luta.
A minha ida para o serviço militar deu-me a independência e com ela o início da minha transformação. Iniciei muito do que ambicionava e fugi da “vergonha” que me perseguia desde a minha infância.

A.R. 25.02.2012



sábado, 17 de outubro de 2015

Inconfidencias

Além da amizade que mostravam ter onde estivessem, tinham no seu dia-a-dia, que ser bons amigos; confiantes um no outro, leais e fiéis.
O negócio que geriam (sociedade) só com estas condições poderia ter os resultados que ambicionavam e que realmente estavam a obter.

Tinham nascido e crescido na mesma vila, as idades eram quase iguais e os comportamentos como crianças, jovens e homens, pouco divergia entre ambos.
Estava criada uma amizade que é difícil de igualar e de onde obtinham óptimos resultados no negócio que tinham iniciado juntos.

A vida familiar de cada um era vista como exemplar, mas vividas com independência total ao negócio que os juntara. Habitavam em zonas diferentes e a amizade era utilizada no seu negócio e sem qualquer outra necessidade.

Admirados como “construtores” de um futuro promissor, nos negócios e na família, eram respeitados e olhados como um exemplo a seguir.

Como nas grandes obras, poderá haver uma falha na construção do edifício. A qualidade do material aplicado ou a forma da sua aplicação faz ruir aquilo que parece ser quase eterno.

Quase por acaso, o sócio mais velho encontrou produtos do negócio que tinham, em local que não era do seu conhecimento. Aprofundando o porquê desta realidade, ficou a saber que aquele em quem depositara toda a confiança e lealdade o andava a trair com vendas paralelas e em benefício próprio.

São inconfidências assim que fazem ruir sonhos e obrigar a olhar de lado para todos, mesmo para os de verdadeira amizade.


Nota: Texto de teor imaginativo com matéria real.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Receio que se repita...


Há recordações da nossa meninice e juventude que nos amedrontam. Tanto pelo que tivemos e passámos como por algumas situações que estamos a começar a viver.
Quando era criança-criança na idade, porque nunca fui criança nem tive juventude-senti na carne a marginalização de pessoas adultas, jovens e crianças que pertenciam a extractos sociais diferentes ou organizavam as suas vidas, económica e social, de forma a não terem uma vida errante e de incertezas diárias.
Os primeiros trabalhos que tive-pastoreio de ovelhas, guardador de suínos, agricultura e mais tarde comércio-não me davam, pelos horários e tipo de serviços, as possibilidades de me poder vestir ou habitar em condições com alguma dignidade.
Sentia que as pessoas tinham a tendência de se afastar de mim. Não porque não tivesse higiene, mas porque os serviços que fazia não me permitiam andar com roupa limpa e a qualidade das mesmas deixarem muito a desejar.
Toda a criança arrasta, e por toda a sua vida, estas recordações de desprezo, marginalização e repudio. É como uma marca na carne.
Quando aos 14 anos passei a trabalhar na indústria, senti ser aceite como humano. Contudo, o facto de andar vestido com pouca qualidade, manteve-me a alguma distância dos jovens da minha idade.
Nos jovens de hoje, encontramos um desarranjo pessoal, até com pouca higiene nalguns casos. Sem trabalho para formarem futuro-vivem com auxílio dos familiares-e sem educação para poderem criar os descendentes que poderão vir a ter, estamos perante uma geração perdida em elevada percentagem.
Além da situação do país, temos esta geração, dos 15 a 30 anos, sem habilitações literárias ou profissionais, abandonados e entregues a um futuro de imprevistos.

É por tudo isto o meu receio; que os vindouros tenham uma elevada percentagem de marginalizados e aspirantes a algum tipo de escravatura. As bases estão criadas.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Amargas recordações.

       O Tóino: - uma criança no seu começo de vida em trabalho remunerado (já tinha “treinado” em tarefas familiares).

   Estamos na época da apanha da azeitona, anos de 1950, em que a faina era feita com o varejar e ripar do fruto das oliveiras para grandes panos estendidos no chão em redor das árvores.
   Homens e mulheres ocupavam-se destes trabalhos, escolhendo-se os mais novos para poderem subir ás árvores. Outros tarefeiros recolhiam os frutos caídos nos panos para o local onde se fazia a sua limpeza, retirar folhas ou outros detritos, preparando a sua ida para o lagar.
   As azeitonas caídas fora dos panos não ficavam no local. Eram recolhidas por pessoas de mais idade e por crianças retiradas da escola. Passavam os dias debruçadas nesta recolha que era feita para cestas feitas de vimes ou de canas e despejadas periodicamente por outros trabalhadores. Claro que além de ter de fazes a apanha na sua área, cada um tinha que ter conteúdo na cesta ou não fosse haver cortes na “maquia” (seu vencimento ou complemento do mesmo, feito com feijão, grão, azeite ou frutos secos).

   Ao conjunto destas pessoas era dado o nome de “ranchos”, conduzidos por um capataz, homem responsável pelo desempenho de cada um e que tinha angariado toda esta gente na sua aldeia e arredores, colocando-as ao serviço do latifundiário, proprietário dos extensos olivais.
   Não fosse as agruras do tempo (frio, chuva e algumas trovoadas) e a alimentação que nos era entregue (couves cozidas com algum feijão e raras batatas, mas confecionados em panelões para matar a fome de 300/400 pessoas) a faina até era tolerada pelos homens e mulheres mais novos. Aos de idade avançada e às crianças, é que dava pena ver o sofrimento por que passavam.

   Com uma duração de 60 dias ou mais, havia os que tinham de abandonar o grupo por falta de saúde, pela dureza do trabalho para as suas condições físicas ou pelas gripes e pneumonias contraídas devido ao enxugar no corpo as roupas molhadas constantemente. O seu “descanso” nocturno era feito em camas de palha, estendida no chão de grandes pavilhões (um para os homens e outro para as mulheres) e que em nada ajudava os mais debilitados.

   O Tóino acompanhou os pais num destes “ranchos” sem poder ser cortado na “maquia” (valor em dinheiro e em leguminosas). Estava acostumado a ter uma má alimentação, mas um pouco melhor do que aquela, dada a sua confeção e higiene; engripou-se mas teve os mimos possíveis e cuidados da mãe, chorava por não poder continuar na escola, mas endureceu na sua vontade de que não era aquela vida que iria levar no futuro. Teve que esperar alguns anos, mas conseguiu parte dos seus objectivos, deixando de ser Tóino e utilizar o seu nome do B.I.



terça-feira, 13 de outubro de 2015

PESADELO ou RECORDAÇÃO?

    O seu caminhar era pesado, próprio para a sua idade e seu peso corporal. Andava, parava por instantes; respirava, como se tivesse necessidade de absorver todo o ar que estava á sua volta e, continuava a caminhar até nova necessidade de voltar a parar. Era assim que eu acompanhava minha avó paterna, senhora de muita idade, e a quem eu queria com muito amor.
   Quando tinha “férias” anuais, havia duas maneiras de as utilizar: ou ia trabalhar para ganhar mais alguns escudos ou ia passar aqueles dias com minha avó, que vivia só, e me agradecia a companhia como uma dádiva divina.
    Eu sabia que era o neto preferido e aquele que sabia compreender as dores que a vida lhe tinha dado. As dores do coração ou da alma, como diz o povo, não têm cura e, ela era uma sofredora. Tinha vivido com esta minha avó, no período mais marcante de uma criança, e terá sido este tempo, a marca que recebi para na minha vida poder ver que o mundo não tinha só uma cor.
   Analfabeta, mas inteligente e conhecedora da vida, deu-me conselhos de grande valia e mostrou exemplos sábios que me desviaram de caminhos que eu poderia ter trilhado.

   Despertei aflito com o sonho que estava a ter… Na minha ida para Timor, em serviço militar, pedi-lhe a ultima bênção (faleceu na minha ausência) e já passaram muitos anos. Como é possível, em sonho, recordar com tanto pormenor acontecimentos passados há tantos anos?
   Não sei se ainda restará alguma molécula do teu corpo, mas as recordações que me deixastes e o bem que me fizestes não me deixarão esquecer-te. 


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Pais maus...

Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e mães, eu hei-de dizer-lhes:

-Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
-Eu vos amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
-Eu vos amei o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram do supermercado ou revista do quiosque, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tiramos isto ontem e queríamos pagar”.
-Eu vos amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
- Eu vos amei o suficiente para vos deixar ver além do amor que sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
-Eu vos amei o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

-Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para vos dizer Não, quando eu sabia que vocês poderiam- me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).

Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci…Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais e mães, vão perguntar se os seus pais eram maus e os meus filhos vão- lhes responder:

-“Sim, os nossos pais eram maus. Eram os piores do mundo. As outras crianças comiam doces no café e nós só tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e gelados ao almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, peixe, legumes e frutas”.
“Nossos pais tinham que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles”.
“Insistiam que lhes disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
 Nossos pais insistiam sempre connosco para que lhes disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade”.
E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata”!

“Nossos pais não deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater á porta para que nossos pais os conhecessem.
Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 15 anos, tivemos que esperar pelo menos 18 para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam-se para saber se a festa foi boa (só para verem como estávamos ao voltar) ”.

“Por causa de nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubos, em actos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime”.

“Foi tudo por causa de nossos pais”!

“Agora que somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “PAIS MAUS”, como eles foram.

Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes pais maus!

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NOTA:Este texto é um arranjo dum email recebido. Foi ajustado á educação que demos (eu e minha mulher) e aos Ricos e Belos resultados que obtivemos.
 Tenho pena que muitos pais sejam tão “bons” para os filhos, os quais serão o futuro deste país.
 A.Rosa

domingo, 11 de outubro de 2015

Por vezes lembro-me...

Com a idade recordamos coisas recentes, mas são sempre as antigas que nos vêm mais á memória.
  Recordo que não consegui ser criança, a juventude foi de luta contra a pobreza envergonhada e, os primeiros anos de adulto foram vividos com sacrifício, labor e contenção na compra de utilidades que poderiam ajudar nos esforços diários.
  Na classe pobre a que eu pertenci desde o nascimento, fiquei no meu “destino natural”. A maioria vivia passivamente sem luta por um rumo diferente, aceitando o seu estado como uma fatalidade  e…o seu fado.
   Nos rebanhos de ovelhas há sempre as que se dispersam. Com o ser humano também se dá a debandada dos que não aceitam a condição a que o seu nascimento o destinou. Muitos não aceitam que o “pastor” lhe tente virar a rota, pois vêm no caminho escolhido como o correcto e que preenche parte dos seus sonhos.
  Na fuga que fiz para sair da precariedade em que vivia, tive que suportar muitas contrariedades. Desde a troça de colegas de trabalho, vizinhos, e de alguns “amigos" (“ali vai um burro carregado de livros” e outras frases de escárnio); as horas de descanso que não houveram; as condições económicas inexistentes e a falta de tempo para acompanhar aquela que tinha passado a fazer parte da minha vida, tudo aconteceu por largo período de tempo.

  Sinto pena dos jovens que hoje têm quase tudo e que quando deixarem a casa dos pais dificilmente vão ter as mesmas condições de vida. A imaturidade, ilusão da vida pelo que estão habituados e as carências que não têm tido, está a traçar-lhes um futuro de fracos e incapazes  para virem a ter uma vida com alguma qualidade. A falta de formação escolar, pessoal e/ou profissional será uma barreira para os menos lutadores e competentes.
  Sair da escola aos nove anos com a 3ª classe e começar a trabalhar, não é o indicado na época em que vivemos. Chegar a adulto e ter que ser trabalhador e estudante, deverá ser a necessidade de jovens, que ao irem para o mercado de trabalho, deparam com a falta do que na altura própria não quiseram ter.
   Sai da escola na 3ª classe, estudei como adulto e consegui uma parte do que queria. Enquanto menor (no “meu tempo” só aos 21 anos se era “maior”) não tive “oportunidade” de estudar; com a minha independência consegui alguns dos meus sonhos.
  Posso não ser velho, mas sei que por ser idoso, pouco mais posso do que por vezes lembrar-me...
 A.Rosa

sábado, 10 de outubro de 2015

Infância de tristezas!...

   Quando abro o meu “álbum” a recordar os meus tempos de menino, verifico que houve três fases distintas neste período.
   Das primeiras recordações até á entrada para a escola; o tempo de escola (da 1ª á 3ª classe) e a saída da escola até aos 14 anos.
   Na primeira fase, a inocência da criança junto ao meio em que vivia, não deu para ver como era possível ser diferente (recordando algumas passagens interrogo-me como foi possível não ter havido acidentes).
   O tempo de escola foi o acordar no quarto escuro e sair para a vida que eu não sabia existir. Desde o contacto com outras crianças onde me apercebi que havia outras maneiras de viver, até ao conhecimento de que o mundo não era só aquilo que eu tinha tido á minha volta, foi o nascer de esperanças em que poderia ter algumas condições de vida como algumas das crianças na minha escola.
   A última destas três fases foi de muita aprendizagem e dureza. No período anterior tinha, além da escola, a obrigação das ajudas caseiras (pequenos trabalhos nos quintais e o guardar de cabras) mas, é difícil descrever como uma criança de dez anos se vê quando começa a trabalhar para ter de contribuir nas ajudas financeiras.
   Foi um espaço de tempo com sofrimento e maus-tratos (trabalhos no campo, guardador de porcos e ovelhas, trabalhos de balcão e recados em taverna, mercearia, carvoaria e drogaria) sem o acompanhamento necessário dos progenitores e o aproveitamento dos “patrões” que além de trabalho davam liberdade aos seus maus humores.
   A necessidade que crianças como eu tiveram em se defender destas situações, deu-lhes um conhecimento acelerado para a vida e, em alguns casos, o desejo de fuga para uma “liberdade” de trabalho mais humana.
   Comigo aconteceu aos 14 anos após obter a 4ª classe. Iniciei a fase de jovem no sector fabril e se no modo de viver continuei como um menino sofredor, ganhei a possibilidade, que aproveitei, de iniciar o meu caminho com alguma esperança e êxito.
   Esta narração não será entendida por todos. Só os “mal nascidos” como eu ou os que acompanharam de perto crianças como esta aqui descrita, sabem que houve-ainda haverá? – esta realidade.
 A.Rosa



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Obrigado por tudo meu Amor.

Desde garoto que me habituei na classificação dada às pessoas, de acordo com a sua idade; jovens, homens ou mulheres - se a idade está entre os 25 e 60 anos – e “velhos” aos que ultrapassaram esta idade.
Não estou de acordo que se diga “velho” aos 60 anos, mas aceito que as condições físicas já não sejam as mais desejadas.
Estou dentro da idade dos “velhos” e, depois de já ter colocado aqui, artigos sobre mim e alguns familiares, está por colocar (“escrever”) sobre a pessoa a quem mais devo, ou a quem tudo eu devo, menos a geração e nascimento.
Um homem pode querer ter tudo na vida; muita força de vontade, desejos de posse, ambição, lutar contra as contrariedades da vida, que não alcançará o pretendido sem a ajuda de uma boa companheira.
Considero-me um protegido em muitas coisas. Com o meu casamento, o destino ou o que seja, tem-me acompanhado com a maior protecção, dando-me a felicidade que eu sempre almejei.
Com a escolha que fiz para minha companheira, não procurei riqueza nem uma princesa. Queria somente uma Princesa lutadora pela vida, que fosse amiga, companheira e uma optima mãe.
Tudo estava na Mulher que me aceitou para o bem e para o mal.
Estamos a fazer 50 anos de casados e continuamos com a mesma paixão de quando começamos a namorar. A mesma aceitação das faltas ou erros cometidos, tolerâncias por imperfeições ou ocorrências, concordância nas decisões a tomar…
É assim a Princesa minha esposa, que tem sido também a minha companheira, amante, amiga, irmã, mãe…Tudo aquilo de que um homem precisa para ser feliz.
Nunca consegui dar-lhe tudo o que merece. Mas por aquilo que me tem dado e tem sido, pelo amor que coloca em tudo, incluindo o de mãe, tenho a obrigação de lhe chamar a minha Santa Protetora, Santa Paciência, a minha Guia na vida.
Bem-haja por tudo o que tens feito como esposa e como mãe. Que a Fortuna da Vida te compense com o que eu não tenho sido capaz de te oferecer.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Caderno de Memórias

Todas as histórias começam por: era uma vez…
   A diferença desta para as outras histórias está em: foi uma vez… um menino com onze anos, trabalhar como ajudante de pastor de ovelhas.

   Habitava com os pais e irmãos uma parte da “casa” onde ficavam as ovelhas, o que lhe dava alguma facilidade para ás quatro horas da manhã as ordenhar juntamente com o pastor. Era só saltar a cancela e estava no local de trabalho.
   A seguir á ordenha saía com o rebanho para os “pastos”. Tinha que fazer a sua guarda em locais de hortas e que era uma tentação para as ovelhas se “desenfiarem” e comerem as hortaliças. Quando isto acontecia, o velho (pastor) tentava aliviar os seus maus humores no corpo do seu ajudante.
   Não se pode falar em horas de refeição nem da sua qualidade. A vida de pastor não tem horários e só as estações do ano variam os hábitos.

   Muitas crianças com onze anos andavam na escola, brincavam ou aguardavam que chegasse a idade para aprenderem uma profissão. Esta criança, começou prematuramente a aprender que, na vida, só se obtém alguma coisa do que se pretende, vencendo as dificuldades do dia-a-dia (inclui a chacota dos outros, o vestir e calçar de mendigo, os maus tratos…).

      Nota: =Hoje estas histórias não acontecem. Não se pode trabalhar antes dos 18 anos (recomendado) ou 16 (autorizado).

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

LOUVOR aos meus FILHOS

   As crianças começam por amar os pais; á medida que crescem, julgam os pais; ás vezes os perdoam!
   Eis uma frase que eu li há muitos anos e, que em parte, me serviu de guia na minha responsabilidade de pai.
   Vejo nos filhos a minha eternidade e, para que fossem motivo do meu orgulho a sua correcção foi necessária.
   Sei que nos seus julgamentos, enquanto jovens, nem sempre me foram favoráveis. As minhas correções também poderiam ter sido menos rígidas e dolorosas, mas os erros destes actos só mais tarde os entendi. Felizmente não deixaram “marcas” mas compreendo que não tenham sido esquecidas. Também fui filho. Não posso esquecer muitos acontecimentos, mas se tenho o poder de perdoar, perdoei sem me pedirem.
   Serve a introdução para explicar que na criação dos meus filhos, houve cuidados na sua educação que foram vistos como rígidos para a época. Creio que voltaria a ser “duro” ainda que com menos erros (com a idade passamos a ver as mesmas coisas mas de outra maneira) para obter os resultados que consegui.
Os filhos que tenho, têm sido o meu orgulho, a minha alegria …
   Como filhos, esposos, pais e profissionais, têm sido o que um pai-e uma mãe-mais poderiam desejar. Abençoados sejam e que a sorte vos proteja.
   Merecem que vos diga publicamente o que nunca me ouviram dizer: vocês são os melhores filhos do mundo e merecem o meu LOUVOR. Continuem com a mesma educação e respeito e transmitam-na o melhor que puderem.
   Bem-haja meus filhos;
    A.ROSA