Com a idade
recordamos coisas recentes, mas são sempre as antigas que nos vêm mais á
memória.
Recordo que
não consegui ser criança, a juventude foi de luta contra a pobreza envergonhada
e, os primeiros anos de adulto foram vividos com sacrifício, labor e contenção
na compra de utilidades que poderiam ajudar nos esforços diários.
Na classe
pobre a que eu pertenci desde o nascimento, fiquei no meu “destino natural”. A
maioria vivia passivamente sem luta por um rumo diferente, aceitando o seu
estado como uma fatalidade e…o seu fado.
Nos
rebanhos de ovelhas há sempre as que se dispersam. Com o ser humano também se
dá a debandada dos que não aceitam a condição a que o seu nascimento o
destinou. Muitos não aceitam que o “pastor” lhe tente virar a rota, pois vêm no
caminho escolhido como o correcto e que preenche parte dos seus sonhos.
Na fuga que
fiz para sair da precariedade em que vivia, tive que suportar muitas
contrariedades. Desde a troça de colegas de trabalho, vizinhos, e de alguns
“amigos" (“ali vai um burro carregado de livros” e outras frases de
escárnio); as horas de descanso que não houveram; as condições económicas
inexistentes e a falta de tempo para acompanhar aquela que tinha passado a
fazer parte da minha vida, tudo aconteceu por largo período de tempo.
Sinto pena
dos jovens que hoje têm quase tudo e que quando deixarem a casa dos pais
dificilmente vão ter as mesmas condições de vida. A imaturidade, ilusão da vida
pelo que estão habituados e as carências que não têm tido, está a traçar-lhes
um futuro de fracos e incapazes para virem a
ter uma vida com alguma qualidade. A falta de formação escolar, pessoal e/ou
profissional será uma barreira para os menos lutadores e competentes.
Sair da
escola aos nove anos com a 3ª classe e começar a trabalhar, não é o indicado na
época em que vivemos. Chegar a adulto e ter que ser trabalhador e estudante,
deverá ser a necessidade de jovens, que ao irem para o mercado de trabalho,
deparam com a falta do que na altura própria não quiseram ter.
Sai
da escola na 3ª classe, estudei como adulto e consegui uma parte do que queria.
Enquanto menor (no “meu tempo” só aos 21 anos se era “maior”) não tive
“oportunidade” de estudar; com a minha independência consegui alguns dos meus
sonhos.
Posso
não ser velho, mas sei que por ser idoso, pouco mais posso do que por
vezes lembrar-me...
A.Rosa
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