Quando
abro o meu “álbum” a recordar os meus tempos de menino, verifico que houve três
fases distintas neste período.
Das
primeiras recordações até á entrada para a escola; o tempo de escola (da 1ª á
3ª classe) e a saída da escola até aos 14 anos.
Na
primeira fase, a inocência da criança junto ao meio em que vivia, não deu para
ver como era possível ser diferente (recordando algumas passagens interrogo-me
como foi possível não ter havido acidentes).
O
tempo de escola foi o acordar no quarto escuro e sair para a vida que eu não
sabia existir. Desde o contacto com outras crianças onde me apercebi que havia
outras maneiras de viver, até ao conhecimento de que o mundo não era só aquilo
que eu tinha tido á minha volta, foi o nascer de esperanças em que poderia ter
algumas condições de vida como algumas das crianças na minha escola.
A
última destas três fases foi de muita aprendizagem e dureza. No período
anterior tinha, além da escola, a obrigação das ajudas caseiras (pequenos
trabalhos nos quintais e o guardar de cabras) mas, é difícil descrever como uma
criança de dez anos se vê quando começa a trabalhar para ter de contribuir nas
ajudas financeiras.
Foi
um espaço de tempo com sofrimento e maus-tratos (trabalhos no campo, guardador
de porcos e ovelhas, trabalhos de balcão e recados em taverna, mercearia,
carvoaria e drogaria) sem o acompanhamento necessário dos progenitores e o
aproveitamento dos “patrões” que além de trabalho davam liberdade aos seus maus
humores.
A
necessidade que crianças como eu tiveram em se defender destas situações,
deu-lhes um conhecimento acelerado para a vida e, em alguns casos, o desejo de
fuga para uma “liberdade” de trabalho mais humana.
Comigo aconteceu aos 14 anos após obter a 4ª classe. Iniciei a fase de jovem no
sector fabril e se no modo de viver continuei como um menino sofredor, ganhei a
possibilidade, que aproveitei, de iniciar o meu caminho com alguma esperança e
êxito.
Esta
narração não será entendida por todos. Só os “mal nascidos” como eu ou os que
acompanharam de perto crianças como esta aqui descrita, sabem que houve-ainda
haverá? – esta realidade.
A.Rosa
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