Memórias

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sábado, 10 de outubro de 2015

Infância de tristezas!...

   Quando abro o meu “álbum” a recordar os meus tempos de menino, verifico que houve três fases distintas neste período.
   Das primeiras recordações até á entrada para a escola; o tempo de escola (da 1ª á 3ª classe) e a saída da escola até aos 14 anos.
   Na primeira fase, a inocência da criança junto ao meio em que vivia, não deu para ver como era possível ser diferente (recordando algumas passagens interrogo-me como foi possível não ter havido acidentes).
   O tempo de escola foi o acordar no quarto escuro e sair para a vida que eu não sabia existir. Desde o contacto com outras crianças onde me apercebi que havia outras maneiras de viver, até ao conhecimento de que o mundo não era só aquilo que eu tinha tido á minha volta, foi o nascer de esperanças em que poderia ter algumas condições de vida como algumas das crianças na minha escola.
   A última destas três fases foi de muita aprendizagem e dureza. No período anterior tinha, além da escola, a obrigação das ajudas caseiras (pequenos trabalhos nos quintais e o guardar de cabras) mas, é difícil descrever como uma criança de dez anos se vê quando começa a trabalhar para ter de contribuir nas ajudas financeiras.
   Foi um espaço de tempo com sofrimento e maus-tratos (trabalhos no campo, guardador de porcos e ovelhas, trabalhos de balcão e recados em taverna, mercearia, carvoaria e drogaria) sem o acompanhamento necessário dos progenitores e o aproveitamento dos “patrões” que além de trabalho davam liberdade aos seus maus humores.
   A necessidade que crianças como eu tiveram em se defender destas situações, deu-lhes um conhecimento acelerado para a vida e, em alguns casos, o desejo de fuga para uma “liberdade” de trabalho mais humana.
   Comigo aconteceu aos 14 anos após obter a 4ª classe. Iniciei a fase de jovem no sector fabril e se no modo de viver continuei como um menino sofredor, ganhei a possibilidade, que aproveitei, de iniciar o meu caminho com alguma esperança e êxito.
   Esta narração não será entendida por todos. Só os “mal nascidos” como eu ou os que acompanharam de perto crianças como esta aqui descrita, sabem que houve-ainda haverá? – esta realidade.
 A.Rosa



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