Memórias

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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Recordando a vida militar!...(parte2)

 Após a minha 1ª parte, do serviço que teria de cumprir (tirar a recruta em gíria militar) fui colocado na EPSM em Sacavém, bem pertinho de casa para poder estar, além da família, com a namorada.

Não foi fácil a permanência neste quartel. A disciplina era rigorosa, os estudos para a especialidade que tinha de tirar, obrigava a uma disciplina e método de estudo pessoal que eu não tinha. Obter os resultados necessários, evitou a retenção no quartel que, era o “prato” forte para quem tinha notas negativas nas provas escritas.

Se o meu tempo de “jovem e adolescente”, tinha fornecido um amadurecimento ao mancebo que tentava ser um militar respeitado, a dureza por que estava a passar transportou-me para a fase adulta e mais responsável. Olhando para traz, eu digo; ainda bem, porque tive ganhos a curto prazo.

Decorridos quatro meses (de Setembro a meados de Janeiro) conclui a “especialidade” e transitei para o RAL1, na Encarnação, para acabar a escola de Cabos.

Não deu tempo para conhecer bem o quartel, dado que fui logo mobilizado. Ser mobilizado era a condenação para uma partida que poderia não ter regresso. Não só pelas doenças que se podiam contrair como pelo desconhecimento com tudo o que íamos enfrentar. Luta armada, povos, dialectos, locais, climas e acima de tudo o stress pela separação da família, amigos e noiva ou esposa.

Tocou-me em sorte o RI16 em Évora, onde estava a Companhia da qual eu iria fazer parte (C.Caç.621). Local distante para me “desmamar” daqueles que eu tanto queria e que ficava privado de contactar.

Os locais de guerra eram Guiné, Angola e Moçambique. Todos estes nomes faziam tremer até os mais valentes e desinteressados pelo que lhes pudesse acontecer.
Outros locais menos temerosos (não havia luta armada) eram, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Macau e por último e mais distante, Timor.

Foi para esta última província que me calhou em sorte.
Passei os últimos dois dias de Janeiro já em Évora, com indicação que embarcaria a partir de 20 de Fevereiro, salvo se o barco que estava em reparação não sofresse atrasos. (continua)…


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Recordar a vida militar (parte 1)

 É possível que ainda hoje, os jovens de 15…18 anos tenham um desejo que me perseguia quando eu tinha estas idades: “demora a chegar a minha maior idade para ser independente”.
Maior de idade naquele tempo, anos 50, era aos 21 anos e actualmente é aos 18 anos.

Contudo, naquela época, tínhamos condições para ficar independentes aos 21 anos. Os jovens de hoje com 18 anos ainda “são crianças” completamente dependentes dos pais e, a sua independência só é conseguida a partir dos 25.

Mas…será que os jovens de hoje têm mais dificuldade em chegar á idade adulta?
Não é o caso. Os idosos de hoje é que tiveram épocas diferentes da actual.

A maioria frequentava a escola 3ou 4 anos, começava a trabalhar, cumpria o serviço militar e fazia a sua independência através do casamento. Alcançavam a 1ª parte dos seus desejos, dando início a outros, se houvesse vontade de lutar por um bem-estar de vida que não tinham tido e se a queriam vir a alcançar.

Os jovens de hoje andam na escola até aos 18 anos e, ou “procuram” iniciar a vida laboral, ou continuam os estudos para uma preparação de vida com mais condições.
De uma forma ou de outra enfrentam embaraços: não é fácil obter colocação no “mundo” do trabalho e não têm vivido com as condições de vida que existia nos anos 50. Não têm obrigação de fazer o serviço militar e são mais protegidos pelos pais.

Quando me apresentei para cumprir o serviço militar (27 de Julho de 1963 na Serra da Carregueira) sabia que “era maior de idade” e, que em relação aos meus pais, era independente para accionar os meus desejos. Porém continuava dependente das vontades e ordens de outros; as forças armadas, que me iriam utilizar por meses ou anos ao seu serviço.

A vida no “mundo” militar tinha regras que não eram aceites por todos. Os mais rebeldes e desobedientes tinham tratamentos que não eram conhecidos ou observados no exterior dos quartéis, mas que serviam de exemplos, para o bom comportamento obrigatório dos restantes.


Comecei, com estas observações, a tomar alguns cuidados na minha conduta. Não iria ser diferente na vida militar daquilo que tinha sido até ali; educado, obediente e respeitador do superior e do companheiro. Servi o meu tempo de militar sem penalizações (advertências, castigos ou outros) e aprendi a ver e pensar com outras “distâncias” que até ali não alcançava. (continua)…