Memórias

Memórias

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Recordando a vida militar!...(parte 3)


Com as alterações nas datas de embarque tive a oportunidade de realizar o meu casamento antes da partida. Uma decisão tomada para obtenção de benefícios e evitar despesas que mais tarde, não podiam ser feitas.

 Metidos os papéis a “correr”, ida ao cartório e facto consumado sem gastos. Era uma necessidade e não um acontecimento para ser “bonito de ver”, porque passados vinte dias, rumei a Timor no pequeno e frágil navio “Índia”.

 É difícil descrever estas partidas para quem não viveu, de alguma maneira, situações tão difíceis.

 Aos mais novos, que apenas ouvem ou leem narrações deste género como “histórias” vividas pelos portugueses, mais difícil será ainda “aceitar” esta realidade.

 Uma partida com incertezas do que poderá acontecer, dói aos que partem e aos que ficam. Nos primeiros dias, fica-se com a ideia que tudo não passa de um sonho mais “pesado”. Depois…o tempo encarrega-se de atenuar a dor e obriga a usar a esperança como um calmante.

A longa viagem, com passagem por Angola (Lobito) e por Moçambique (Lourenço Marques- actual Maputo) deu, nos 43 dias de duração, para registar de tudo.
Enjoos, tempestades, parotidite epidémica (doença conhecida por papeira), fracturas por quedas devido às tempestades e desesperos stressantes pelo medo de andar no barco.

 A chegada à Baia de Díli deu-nos uma imagem do que havia na ilha.
Como capital da província não poderia enganar o que tinha no seu interior e aquilo que era visível não alterou o que se tinha imaginado. Além de povoações quase primitivas, encontramos locais deslumbrantes e um povo maravilhoso e acolhedor.

Foram dois anos vividos em “isolamento”, da civilização, da família e dos amigos.
Tive um “amadurecimento” forçado, mas que me deu a possibilidade de poder, ao longo da vida, ver o ser humano ao nível de relacionamento e amizade, com a realidade e qualidade que eu não conhecia.

Posso garantir que, no final dos 24 meses de permanência, fiquei a ser a pessoa responsável que tenho sido, o amigo dos meus amigos e o lutador da minha própria formação como homem e profissional.

Sou muito seletivo nas minhas amizades, mas no meu grupo de amigos, continuam muitos antigos camaradas da vida militar.

      FIM

Sem comentários:

Enviar um comentário