Com as alterações nas datas de embarque
tive a oportunidade de realizar o meu casamento antes da partida. Uma decisão
tomada para obtenção de benefícios e evitar despesas que mais tarde, não podiam
ser feitas.
Metidos os papéis a “correr”, ida
ao cartório e facto consumado sem gastos. Era uma necessidade e não um
acontecimento para ser “bonito de ver”, porque passados vinte dias, rumei a
Timor no pequeno e frágil navio “Índia”.
É difícil descrever estas partidas
para quem não viveu, de alguma maneira, situações tão difíceis.
Aos mais novos, que apenas ouvem ou leem
narrações deste género como “histórias” vividas pelos portugueses, mais difícil
será ainda “aceitar” esta realidade.
Uma partida com incertezas do que
poderá acontecer, dói aos que partem e aos que ficam. Nos primeiros dias,
fica-se com a ideia que tudo não passa de um sonho mais “pesado”. Depois…o
tempo encarrega-se de atenuar a dor e obriga a usar a esperança como um
calmante.
A longa viagem, com passagem por Angola
(Lobito) e por Moçambique (Lourenço Marques- actual Maputo) deu, nos 43 dias de
duração, para registar de tudo.
Enjoos, tempestades, parotidite epidémica
(doença conhecida por papeira), fracturas por quedas devido às tempestades e
desesperos stressantes pelo medo de andar no barco.
A chegada à Baia de Díli deu-nos
uma imagem do que havia na ilha.
Como capital da província não poderia
enganar o que tinha no seu interior e aquilo que era visível não alterou o que
se tinha imaginado. Além de povoações quase primitivas, encontramos locais
deslumbrantes e um povo maravilhoso e acolhedor.
Foram dois anos vividos em “isolamento”,
da civilização, da família e dos amigos.
Tive um “amadurecimento” forçado, mas que
me deu a possibilidade de poder, ao longo da vida, ver o ser humano ao nível de
relacionamento e amizade, com a realidade e qualidade que eu não conhecia.
Posso garantir que, no final dos 24 meses
de permanência, fiquei a ser a pessoa responsável que tenho sido, o amigo dos
meus amigos e o lutador da minha própria formação como homem e profissional.
Sou muito seletivo nas minhas amizades,
mas no meu grupo de amigos, continuam muitos antigos camaradas da vida militar.
FIM
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