O titulo desta minha página quer reaver um pouco disto mesmo. "Memórias" vai ser o tema de algumas páginas que irei escrever, pois há recordações que não merecem ser esquecidas.
Memórias
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Recordando a vida militar!...(parte2)
Após a minha 1ª parte, do serviço que teria
de cumprir (tirar a recruta em gíria militar) fui colocado na EPSM em Sacavém,
bem pertinho de casa para poder estar, além da família, com a namorada.
Não foi fácil a permanência neste quartel. A
disciplina era rigorosa, os estudos para a especialidade que tinha de tirar,
obrigava a uma disciplina e método de estudo pessoal que eu não tinha. Obter os
resultados necessários, evitou a retenção no quartel que, era o “prato” forte
para quem tinha notas negativas nas provas escritas.
Se o meu tempo de “jovem e adolescente”, tinha
fornecido um amadurecimento ao mancebo que tentava ser um militar respeitado, a
dureza por que estava a passar transportou-me para a fase adulta e mais
responsável. Olhando para traz, eu digo; ainda bem, porque tive ganhos a curto
prazo.
Decorridos quatro meses (de Setembro a meados de
Janeiro) conclui a “especialidade” e transitei para o RAL1, na Encarnação, para
acabar a escola de Cabos.
Não deu tempo para conhecer bem o quartel, dado que
fui logo mobilizado. Ser mobilizado era a condenação para uma partida que
poderia não ter regresso. Não só pelas doenças que se podiam contrair como pelo
desconhecimento com tudo o que íamos enfrentar. Luta armada, povos, dialectos,
locais, climas e acima de tudo o stress pela separação da família, amigos e
noiva ou esposa.
Tocou-me em sorte o RI16 em Évora, onde estava a
Companhia da qual eu iria fazer parte (C.Caç.621). Local distante para me
“desmamar” daqueles que eu tanto queria e que ficava privado de contactar.
Os locais de guerra eram Guiné, Angola e Moçambique.
Todos estes nomes faziam tremer até os mais valentes e desinteressados pelo que
lhes pudesse acontecer.
Outros locais menos temerosos (não havia luta armada)
eram, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Macau e por último e mais distante,
Timor.
Foi para esta última província que me calhou em sorte.
Passei os últimos dois dias de Janeiro já em Évora,
com indicação que embarcaria a partir de 20 de Fevereiro, salvo se o barco que
estava em reparação não sofresse atrasos. (continua)…
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
Recordar a vida militar (parte 1)
É possível que ainda hoje, os jovens de 15…18
anos tenham um desejo que me perseguia quando eu tinha estas idades: “demora a
chegar a minha maior idade para ser independente”.
Maior de idade naquele tempo, anos 50, era aos 21 anos
e actualmente é aos 18 anos.
Contudo, naquela época, tínhamos condições para ficar
independentes aos 21 anos. Os jovens de hoje com 18 anos ainda “são crianças”
completamente dependentes dos pais e, a sua independência só é conseguida a
partir dos 25.
Mas…será que os jovens de hoje têm mais dificuldade em
chegar á idade adulta?
Não é o caso. Os idosos de hoje é que tiveram épocas
diferentes da actual.
A maioria frequentava a escola 3ou 4 anos, começava a
trabalhar, cumpria o serviço militar e fazia a sua independência através do
casamento. Alcançavam a 1ª parte dos seus desejos, dando início a outros, se
houvesse vontade de lutar por um bem-estar de vida que não tinham tido e se a
queriam vir a alcançar.
Os jovens de hoje andam na escola até aos 18 anos e,
ou “procuram” iniciar a vida laboral, ou continuam os estudos para uma preparação
de vida com mais condições.
De uma forma ou de outra enfrentam embaraços: não é
fácil obter colocação no “mundo” do trabalho e não têm vivido com as condições
de vida que existia nos anos 50. Não têm obrigação de fazer o serviço militar e
são mais protegidos pelos pais.
Quando me apresentei para cumprir o serviço militar
(27 de Julho de 1963 na Serra da Carregueira) sabia que “era maior de idade” e,
que em relação aos meus pais, era independente para accionar os meus desejos.
Porém continuava dependente das vontades e ordens de outros; as forças armadas,
que me iriam utilizar por meses ou anos ao seu serviço.
A vida no “mundo” militar tinha regras que não eram
aceites por todos. Os mais rebeldes e desobedientes tinham tratamentos que não
eram conhecidos ou observados no exterior dos quartéis, mas que serviam de
exemplos, para o bom comportamento obrigatório dos restantes.
Comecei, com estas observações, a tomar alguns
cuidados na minha conduta. Não iria ser diferente na vida militar daquilo que
tinha sido até ali; educado, obediente e respeitador do superior e do
companheiro. Servi o meu tempo de militar sem penalizações (advertências,
castigos ou outros) e aprendi a ver e pensar com outras
“distâncias” que até ali não alcançava. (continua)…
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Bailes dos anos 50...
Diz o povo, que “recordar é viver” e eu acrescento
que, quando as recordações são positivas, parece haver o “rejuvenescer” de um
sentimento que junto a uma saudade doentia por vezes se torna dolorosa.
Talvez por não se ter ficado saciado e o vazio que ficou nos dar esta sensação
de dor.
Escrevo este sentimento, lembrando o que tive e o que
passei até à minha maior idade (21 anos) pois o pouco de bom quando aparecia
era vivido com alguma loucura.
Não são muitas, mas as que houve, recordo-as
como se as estivesse ou pudesse repetir.
Recordar os bailes dos anos 50, princípios de 60 do
século 20 é como ficar extasiado. Era praticamente a minha única diversão.
Tinha baixos custos, ricos em convívio e servia de fuga a situações que eu não
devia assistir. Acrescentando o gosto que sempre tive em dançar (nunca passei
de um dançarino medíocre) era com elevada agitação que vivia o aproximar dos
fins-de-semana em que podia ir ao baile.
Como não detinha a possibilidade de utilizar
transportes públicos (os cinco “paus” eram para pagar a entrada e pouco mais),
percorria distâncias de quilómetros para me divertir em tão bom e saudável
passatempo. Era novo e o cansaço não aparecia. A alimentação era esquecida e a
“gordura corporal” não me incomodava; só tinha de evitar que os ossos não me
furassem a pele. Eram condições que abonavam para a minha ligeireza no dançar e
para a rapidez das deslocações, que comparadas com as de alguns amigos me davam
certas vantagens. Ser pobre não tem tudo de mau!
Para falar destes bailes, não posso deixar de
acrescentar, que na maior parte das vezes eram feitos em povoações pequenas,
simples e humildes nas gentes que as formavam, de poder económico quase
inexistente, mas onde a pureza, seriedade, sentido de ajuda e a educação
estavam acima de tudo.
A falta destes bens na sociedade de hoje,
comparado com a pureza do viver daqueles tempos, mais aumenta a minha tristeza
nas recordações daquela época.
Com os bailes aqui descritos, junto os namoricos
que se arranjavam pela oportunidade de diálogo que havia entre os pares na
dança. Muitos acabavam em casamento, no qual eu incluo o meu e sem necessidade
de pedir ou aceitar namoro.
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Meus anos de "juventude".
É normal dar-se como período de juventude o espaço
compreendido entre os 14 e os 20 anos. Digo normal porque é o tempo em que se
deixa de ser criança para se começar a ter responsabilidades dos seus actos,
verificar quais as suas possibilidades, a realidade em que vivemos…
Como nos animais irracionais, que começam a deixar os
progenitores para seguirem sozinhos o seu destino, o ser humano tem neste período
a sua formação e preparação para a vida futura.
Quando bem acompanhados e auxiliados pelos pais, podem
adquirir as bases com a resistência necessária para o seu rumo na vida.
Mesmo com todas estas possibilidades, nem todos
os jovens seguem o caminho mais correcto, transportando-os para uma formação de
falhas e inutilidades que marcam toda a sua existência.
Talvez porque não têm a força necessária, a ambição de
serem os lutadores a que a vida nos obriga, por langor ou passividade própria.
Este período marcou em mim um tempo de vitórias e
frustrações. Não tive oportunidades de estudar quando o vazio de tempo, após o
trabalho na fábrica, não tinha preenchimento de qualquer utilidade, não podia
acompanhar com todos os rapazes porque me apresentava como pobre envergonhado,
não pertencia à classe de famílias que tinham organização de vida…
Quando isto acontece a quem deseja ser “normal” ainda
que pobre, há uma vontade crescente de lutar contra todas as adversidades e, na
primeira oportunidade inicia-se a luta.
A minha ida para o serviço militar deu-me a
independência e com ela o início da minha transformação. Iniciei muito do que
ambicionava e fugi da “vergonha” que me perseguia desde a minha infância.
A.R. 25.02.2012
sábado, 17 de outubro de 2015
Inconfidencias
Além da amizade que mostravam ter onde estivessem,
tinham no seu dia-a-dia, que ser bons amigos; confiantes um no outro, leais e fiéis.
O negócio que geriam (sociedade) só com estas
condições poderia ter os resultados que ambicionavam e que realmente estavam a
obter.
Tinham nascido e crescido na mesma vila, as idades
eram quase iguais e os comportamentos como crianças, jovens e homens, pouco
divergia entre ambos.
Estava criada uma amizade que é difícil de igualar e
de onde obtinham óptimos resultados no negócio que tinham iniciado juntos.
A vida familiar de cada um era vista como exemplar,
mas vividas com independência total ao negócio que os juntara. Habitavam em
zonas diferentes e a amizade era utilizada no seu negócio e sem qualquer outra
necessidade.
Admirados como “construtores” de um futuro promissor,
nos negócios e na família, eram respeitados e olhados como um exemplo a seguir.
Como nas grandes obras, poderá haver uma falha na
construção do edifício. A qualidade do material aplicado ou a forma da sua
aplicação faz ruir aquilo que parece ser quase eterno.
Quase por acaso, o sócio mais velho encontrou produtos
do negócio que tinham, em local que não era do seu conhecimento. Aprofundando o
porquê desta realidade, ficou a saber que aquele em quem depositara toda a
confiança e lealdade o andava a trair com vendas paralelas e em benefício
próprio.
São inconfidências assim que fazem ruir sonhos e
obrigar a olhar de lado para todos, mesmo para os de verdadeira amizade.
Nota: Texto de teor
imaginativo com matéria real.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
Receio que se repita...
Há recordações da nossa meninice e juventude que nos
amedrontam. Tanto pelo que tivemos e passámos como por algumas situações que
estamos a começar a viver.
Quando era criança-criança na idade, porque nunca fui
criança nem tive juventude-senti na carne a marginalização de pessoas adultas,
jovens e crianças que pertenciam a extractos sociais diferentes ou organizavam
as suas vidas, económica e social, de forma a não terem uma vida errante e de
incertezas diárias.
Os primeiros trabalhos que tive-pastoreio de ovelhas,
guardador de suínos, agricultura e mais tarde comércio-não me davam, pelos
horários e tipo de serviços, as possibilidades de me poder vestir ou habitar em
condições com alguma dignidade.
Sentia que as pessoas tinham a tendência de se afastar
de mim. Não porque não tivesse higiene, mas porque os serviços que fazia não me
permitiam andar com roupa limpa e a qualidade das mesmas deixarem muito a
desejar.
Toda a criança arrasta, e por toda a sua vida, estas
recordações de desprezo, marginalização e repudio. É como uma marca na carne.
Quando aos 14 anos passei a trabalhar na indústria,
senti ser aceite como humano. Contudo, o facto de andar vestido com pouca
qualidade, manteve-me a alguma distância dos jovens da minha idade.
Nos jovens de hoje, encontramos um desarranjo pessoal,
até com pouca higiene nalguns casos. Sem trabalho para formarem futuro-vivem
com auxílio dos familiares-e sem educação para poderem criar os descendentes
que poderão vir a ter, estamos perante uma geração perdida em elevada
percentagem.
Além da situação do país, temos esta geração, dos 15 a
30 anos, sem habilitações literárias ou profissionais, abandonados e entregues
a um futuro de imprevistos.
É por tudo isto o meu receio; que os vindouros tenham
uma elevada percentagem de marginalizados e aspirantes a algum tipo de
escravatura. As bases estão criadas.
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Amargas recordações.
O Tóino: - uma criança no seu começo de
vida em trabalho remunerado (já tinha “treinado” em tarefas familiares).
Estamos na época da apanha da azeitona, anos de 1950, em que a faina era feita
com o varejar e ripar do fruto das oliveiras para grandes panos estendidos no
chão em redor das árvores.
Homens e mulheres ocupavam-se destes trabalhos, escolhendo-se os mais novos
para poderem subir ás árvores. Outros tarefeiros recolhiam os frutos caídos nos
panos para o local onde se fazia a sua limpeza, retirar folhas ou outros
detritos, preparando a sua ida para o lagar.
As
azeitonas caídas fora dos panos não ficavam no local. Eram recolhidas por
pessoas de mais idade e por crianças retiradas da escola. Passavam os dias
debruçadas nesta recolha que era feita para cestas feitas de vimes ou de canas
e despejadas periodicamente por outros trabalhadores. Claro que além de ter de
fazes a apanha na sua área, cada um tinha que ter conteúdo na cesta ou não
fosse haver cortes na “maquia” (seu vencimento ou complemento do mesmo, feito
com feijão, grão, azeite ou frutos secos).
Ao
conjunto destas pessoas era dado o nome de “ranchos”, conduzidos por um
capataz, homem responsável pelo desempenho de cada um e que tinha angariado
toda esta gente na sua aldeia e arredores, colocando-as ao serviço do
latifundiário, proprietário dos extensos olivais.
Não
fosse as agruras do tempo (frio, chuva e algumas trovoadas) e a alimentação que
nos era entregue (couves cozidas com algum feijão e raras batatas, mas
confecionados em panelões para matar a fome de 300/400 pessoas) a faina até era
tolerada pelos homens e mulheres mais novos. Aos de idade avançada e às
crianças, é que dava pena ver o sofrimento por que passavam.
Com
uma duração de 60 dias ou mais, havia os que tinham de abandonar o grupo por
falta de saúde, pela dureza do trabalho para as suas condições físicas ou pelas
gripes e pneumonias contraídas devido ao enxugar no corpo as roupas molhadas
constantemente. O seu “descanso” nocturno era feito em camas de palha,
estendida no chão de grandes pavilhões (um para os homens e outro para as
mulheres) e que em nada ajudava os mais debilitados.
O Tóino acompanhou os pais num destes “ranchos” sem poder ser cortado
na “maquia” (valor em dinheiro e em leguminosas). Estava acostumado a ter uma
má alimentação, mas um pouco melhor do que aquela, dada a sua confeção e
higiene; engripou-se mas teve os mimos possíveis e cuidados da mãe, chorava por
não poder continuar na escola, mas endureceu na sua vontade de que não era
aquela vida que iria levar no futuro. Teve que esperar alguns anos, mas
conseguiu parte dos seus objectivos, deixando de ser Tóino e utilizar o seu nome do
B.I.
terça-feira, 13 de outubro de 2015
PESADELO ou RECORDAÇÃO?
O seu caminhar era pesado, próprio para a sua idade e seu peso corporal.
Andava, parava por instantes; respirava, como se tivesse necessidade de
absorver todo o ar que estava á sua volta e, continuava a caminhar até nova necessidade
de voltar a parar. Era assim que eu acompanhava minha avó paterna, senhora de
muita idade, e a quem eu queria com muito amor.
Quando tinha “férias” anuais, havia duas maneiras de as utilizar: ou ia
trabalhar para ganhar mais alguns escudos ou ia passar aqueles dias com minha
avó, que vivia só, e me agradecia a companhia como uma dádiva divina.
Eu sabia que era o neto preferido e aquele que sabia compreender as dores
que a vida lhe tinha dado. As dores do coração ou da alma, como diz o povo, não
têm cura e, ela era uma sofredora. Tinha vivido com esta minha avó, no período
mais marcante de uma criança, e terá sido este tempo, a marca que recebi para
na minha vida poder ver que o mundo não tinha só uma cor.
Analfabeta, mas inteligente e conhecedora da vida, deu-me conselhos de grande
valia e mostrou exemplos sábios que me desviaram de caminhos que eu poderia ter
trilhado.
Despertei aflito com o sonho que estava a ter… Na minha ida para Timor, em
serviço militar, pedi-lhe a ultima bênção (faleceu na minha ausência) e já
passaram muitos anos. Como é possível, em sonho, recordar com tanto pormenor
acontecimentos passados há tantos anos?
Não
sei se ainda restará alguma molécula do teu corpo, mas as recordações que me
deixastes e o bem que me fizestes não me deixarão esquecer-te.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Pais maus...
Um dia quando os
meus filhos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os
pais e mães, eu hei-de dizer-lhes:
-Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e
a que horas regressarão.
-Eu vos amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com
que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
-Eu vos amei o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram
do supermercado ou revista do quiosque, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tiramos
isto ontem e queríamos pagar”.
-Eu vos amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas
horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15
minutos.
- Eu vos amei o suficiente para vos deixar ver além do amor que sentia
por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
-Eu vos amei o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade
das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o
coração.
-Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para vos dizer Não, quando eu sabia que vocês
poderiam- me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente,
venci…Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando os meus
netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva os pais
e mães, vão perguntar se os seus pais eram maus e os meus filhos vão- lhes
responder:
-“Sim, os nossos pais eram
maus. Eram os piores do mundo. As outras crianças comiam doces no café e nós só
tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam
refrigerantes e comiam batatas fritas e gelados ao almoço e nós tínhamos que
comer arroz, feijão, peixe, legumes e frutas”.
“Nossos pais tinham
que saber quem eram os nossos amigos e o que fazíamos com eles”.
“Insistiam que lhes
disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou
menos.
Nossos pais
insistiam sempre connosco para que lhes disséssemos sempre a verdade e apenas a
verdade”.
E quando éramos
adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era
mesmo chata”!
“Nossos pais não
deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir,
bater á porta para que nossos pais os conhecessem.
Enquanto todos
podiam voltar tarde da noite com 15 anos, tivemos que esperar pelo menos 18
para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam-se para saber se a
festa foi boa (só para verem como estávamos ao voltar) ”.
“Por causa de
nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
Nenhum de nós
esteve envolvido com drogas, em roubos, em actos de vandalismo, em violação de
propriedade, nem fomos presos por nenhum crime”.
“Foi tudo por causa
de nossos pais”!
“Agora que
somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “PAIS
MAUS”, como eles foram.
Eu acho que este é
um dos males do mundo de hoje: Não há suficientes pais maus!
=== ===
=== ===
NOTA:Este texto é
um arranjo dum email recebido. Foi ajustado á educação que demos (eu e minha
mulher) e aos Ricos e Belos resultados que obtivemos.
Tenho
pena que muitos pais sejam tão “bons” para os filhos, os quais serão o
futuro deste país.
A.Rosa
domingo, 11 de outubro de 2015
Por vezes lembro-me...
Com a idade
recordamos coisas recentes, mas são sempre as antigas que nos vêm mais á
memória.
Recordo que
não consegui ser criança, a juventude foi de luta contra a pobreza envergonhada
e, os primeiros anos de adulto foram vividos com sacrifício, labor e contenção
na compra de utilidades que poderiam ajudar nos esforços diários.
Na classe
pobre a que eu pertenci desde o nascimento, fiquei no meu “destino natural”. A
maioria vivia passivamente sem luta por um rumo diferente, aceitando o seu
estado como uma fatalidade e…o seu fado.
Nos
rebanhos de ovelhas há sempre as que se dispersam. Com o ser humano também se
dá a debandada dos que não aceitam a condição a que o seu nascimento o
destinou. Muitos não aceitam que o “pastor” lhe tente virar a rota, pois vêm no
caminho escolhido como o correcto e que preenche parte dos seus sonhos.
Na fuga que
fiz para sair da precariedade em que vivia, tive que suportar muitas
contrariedades. Desde a troça de colegas de trabalho, vizinhos, e de alguns
“amigos" (“ali vai um burro carregado de livros” e outras frases de
escárnio); as horas de descanso que não houveram; as condições económicas
inexistentes e a falta de tempo para acompanhar aquela que tinha passado a
fazer parte da minha vida, tudo aconteceu por largo período de tempo.
Sinto pena
dos jovens que hoje têm quase tudo e que quando deixarem a casa dos pais
dificilmente vão ter as mesmas condições de vida. A imaturidade, ilusão da vida
pelo que estão habituados e as carências que não têm tido, está a traçar-lhes
um futuro de fracos e incapazes para virem a
ter uma vida com alguma qualidade. A falta de formação escolar, pessoal e/ou
profissional será uma barreira para os menos lutadores e competentes.
Sair da
escola aos nove anos com a 3ª classe e começar a trabalhar, não é o indicado na
época em que vivemos. Chegar a adulto e ter que ser trabalhador e estudante,
deverá ser a necessidade de jovens, que ao irem para o mercado de trabalho,
deparam com a falta do que na altura própria não quiseram ter.
Sai
da escola na 3ª classe, estudei como adulto e consegui uma parte do que queria.
Enquanto menor (no “meu tempo” só aos 21 anos se era “maior”) não tive
“oportunidade” de estudar; com a minha independência consegui alguns dos meus
sonhos.
Posso
não ser velho, mas sei que por ser idoso, pouco mais posso do que por
vezes lembrar-me...
A.Rosa
sábado, 10 de outubro de 2015
Infância de tristezas!...
Quando
abro o meu “álbum” a recordar os meus tempos de menino, verifico que houve três
fases distintas neste período.
Das
primeiras recordações até á entrada para a escola; o tempo de escola (da 1ª á
3ª classe) e a saída da escola até aos 14 anos.
Na
primeira fase, a inocência da criança junto ao meio em que vivia, não deu para
ver como era possível ser diferente (recordando algumas passagens interrogo-me
como foi possível não ter havido acidentes).
O
tempo de escola foi o acordar no quarto escuro e sair para a vida que eu não
sabia existir. Desde o contacto com outras crianças onde me apercebi que havia
outras maneiras de viver, até ao conhecimento de que o mundo não era só aquilo
que eu tinha tido á minha volta, foi o nascer de esperanças em que poderia ter
algumas condições de vida como algumas das crianças na minha escola.
A
última destas três fases foi de muita aprendizagem e dureza. No período
anterior tinha, além da escola, a obrigação das ajudas caseiras (pequenos
trabalhos nos quintais e o guardar de cabras) mas, é difícil descrever como uma
criança de dez anos se vê quando começa a trabalhar para ter de contribuir nas
ajudas financeiras.
Foi
um espaço de tempo com sofrimento e maus-tratos (trabalhos no campo, guardador
de porcos e ovelhas, trabalhos de balcão e recados em taverna, mercearia,
carvoaria e drogaria) sem o acompanhamento necessário dos progenitores e o
aproveitamento dos “patrões” que além de trabalho davam liberdade aos seus maus
humores.
A
necessidade que crianças como eu tiveram em se defender destas situações,
deu-lhes um conhecimento acelerado para a vida e, em alguns casos, o desejo de
fuga para uma “liberdade” de trabalho mais humana.
Comigo aconteceu aos 14 anos após obter a 4ª classe. Iniciei a fase de jovem no
sector fabril e se no modo de viver continuei como um menino sofredor, ganhei a
possibilidade, que aproveitei, de iniciar o meu caminho com alguma esperança e
êxito.
Esta
narração não será entendida por todos. Só os “mal nascidos” como eu ou os que
acompanharam de perto crianças como esta aqui descrita, sabem que houve-ainda
haverá? – esta realidade.
A.Rosa
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
Obrigado por tudo meu Amor.
Desde garoto que me habituei na classificação dada às
pessoas, de acordo com a sua idade; jovens, homens ou mulheres - se a idade
está entre os 25 e 60 anos – e “velhos” aos que ultrapassaram esta idade.
Não estou de acordo que se diga “velho” aos 60 anos,
mas aceito que as condições físicas já não sejam as mais desejadas.
Estou dentro da idade dos “velhos” e, depois de já ter
colocado aqui, artigos sobre mim e alguns familiares, está por colocar
(“escrever”) sobre a pessoa a quem mais devo, ou a quem tudo eu devo, menos a geração e nascimento.
Um homem pode querer ter tudo na vida; muita força de
vontade, desejos de posse, ambição, lutar contra as contrariedades da vida, que
não alcançará o pretendido sem a ajuda de uma boa companheira.
Considero-me um protegido em muitas coisas. Com o meu
casamento, o destino ou o que seja, tem-me acompanhado com
a maior protecção, dando-me a felicidade que eu sempre almejei.
Com a escolha que fiz para minha companheira, não
procurei riqueza nem uma princesa. Queria somente uma Princesa lutadora pela vida, que fosse amiga, companheira e uma optima mãe.
Tudo estava na Mulher que me aceitou para o bem e para
o mal.
Estamos a fazer 50 anos de casados e continuamos com a
mesma paixão de quando começamos a namorar. A mesma aceitação das faltas ou
erros cometidos, tolerâncias por imperfeições ou ocorrências, concordância nas
decisões a tomar…
É assim a Princesa minha esposa, que
tem sido também a minha companheira, amante, amiga, irmã, mãe…Tudo aquilo de
que um homem precisa para ser feliz.
Nunca consegui dar-lhe tudo o que merece. Mas por
aquilo que me tem dado e tem sido, pelo amor que coloca em tudo, incluindo o de
mãe, tenho a obrigação de lhe chamar a minha Santa Protetora, Santa
Paciência, a minha Guia na vida.
Bem-haja por tudo o que tens feito como esposa e como
mãe. Que a Fortuna da
Vida te compense com o que eu
não tenho sido capaz de te oferecer.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Caderno de Memórias
Todas
as histórias começam por: era uma vez…
A diferença desta para as outras histórias está em: foi uma vez… um menino com
onze anos, trabalhar como ajudante de pastor de ovelhas.
Habitava com os pais e irmãos uma parte da “casa” onde ficavam as ovelhas, o
que lhe dava alguma facilidade para ás quatro horas da manhã as ordenhar
juntamente com o pastor. Era só saltar a cancela e estava no local de trabalho.
A seguir á ordenha saía com o rebanho para os “pastos”. Tinha que fazer a sua
guarda em locais de hortas e que era uma tentação para as ovelhas se
“desenfiarem” e comerem as hortaliças. Quando isto acontecia, o velho (pastor)
tentava aliviar os seus maus humores no corpo do seu ajudante.
Não se pode falar em horas de refeição nem da sua qualidade. A vida de pastor
não tem horários e só as estações do ano variam os hábitos.
Muitas crianças com onze anos andavam na escola, brincavam ou aguardavam que
chegasse a idade para aprenderem uma profissão. Esta criança, começou
prematuramente a aprender que, na vida, só se obtém alguma coisa do que se
pretende, vencendo as dificuldades do dia-a-dia (inclui a chacota dos outros, o
vestir e calçar de mendigo, os maus tratos…).
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
LOUVOR aos meus FILHOS
Eis uma frase que eu li há muitos anos e, que em parte, me serviu de guia na
minha responsabilidade de pai.
Vejo nos filhos a minha eternidade e, para que fossem motivo do meu orgulho a
sua correcção foi necessária.
Sei que nos seus julgamentos, enquanto jovens, nem sempre me foram favoráveis.
As minhas correções também poderiam ter sido menos rígidas e dolorosas, mas os
erros destes actos só mais tarde os entendi. Felizmente não deixaram “marcas”
mas compreendo que não tenham sido esquecidas. Também fui filho. Não posso
esquecer muitos acontecimentos, mas se tenho o poder de perdoar, perdoei sem me
pedirem.
Serve a introdução para explicar que na criação dos meus filhos, houve cuidados
na sua educação que foram vistos como rígidos para a época. Creio que voltaria
a ser “duro” ainda que com menos erros (com a idade passamos a ver as mesmas
coisas mas de outra maneira) para obter os resultados que consegui.
Os
filhos que tenho, têm sido o meu orgulho, a minha alegria …
Como filhos, esposos, pais e profissionais, têm sido o que um pai-e uma
mãe-mais poderiam desejar. Abençoados sejam e que a sorte vos proteja.
Merecem que vos diga publicamente o que nunca me ouviram dizer: vocês são os
melhores filhos do mundo e merecem o meu LOUVOR. Continuem com a
mesma educação e respeito e transmitam-na o melhor que puderem.
Bem-haja meus filhos;
A.ROSA
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